sábado, 24 de setembro de 2011

Poetizar:


Arte: Paulo Marcos M. Santos


pescar (pacientemente)
em mares de sensações,
sob idílico céu,
letra por letra
das palavras ditas pela alma.

Anderson Lobo
(pescador de estrelas e versos)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Jonathan Briley



Setembro, 
nave 
e tombo.
Morte, 
tua face
ensandecida nos contempla.
 
Fogo,
fuligem 
e colapso.
Ferro retorcido.
Sensatez, 
teus filhos estão loucos.

Barulho, 
sirene e grito.
Golias,
Davi atirou a pedra.*

O mundo se pergunta
enquanto o voo solitário.
Um mundo estarrecido
e o voo,
letal.
Audacioso.

Não, 
não há mais tempo...
Não há mais setembro
para Jonathan Briley.
Ele cai.

Jonathan Briley
simplesmente
cai.

Anderson Lobo




* Poeta Rogério Salgado:


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sobre Robert Johnson



Desenho: Robert Crumb


Dizem sobre o diabo...
o Mississippi e o blues.
Quem dirá que não foi profano?
Dizem que foi em uma encruzilhada...
Lá pelas tantas, um algoz e um trato.
O peito em chamas,
suas mãos dançando como nunca pelas cordas do violão.
Quem dirá que não?
Dizem que foi trágico...
Poeta,
por linhas tortas e curvas de mulheres,
desenhando
blues.
Caminhando com a sutileza de um ébrio
(vida e whisky envenenado).
Com a sina de um Fausto.
Com a incerteza de um errante.

Quem dirá que não foi sagrado? 


Anderson Lobo

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Paixão


 
 
Fogo na treva de uma noite calma.
Violenta lava que do peito aflora.
Vulcão irrompe da montanha aurora.
Desassossego invade corpo e alma.

Selva truculenta de sentimentos.
Em âmago não há contentamento
Que aplaque vontade de carne e seio
De alguém que aspira ao que lhe é alheio.

Seja temporal no deserto agrura.
Seja o céu, espetáculo e trovão.
Seja mar de desvario e loucura.

Seja rio entre cânion solidão.
Seja caudaloso elixir que cura.
Seja capaz de abrandar a razão.
 
Anderson Lobo
(cantor, compositor e poeta mineiro)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Deus...

...inominável.
abissal estranhamento.
total arrebatamento.
imensurável.
remoto.
origem
e ocaso.
onírico e obra.

... criar e ceifar.
enlouquecer frente ao imenso.
mistério,
para além de nós.
para além dos templos.
o vento,
e o tempo.
pergunta,
sem resposta.
big-bang da aurora.
crepúsculo das eras.
céu,
morada de galáxias.
megatons,
cosmos e confins.
criatura,
à nossa imagem.
inquietude.

...vida e morte.
em profusão, amor.
em imensidão, terrível.
aquilo que somos.
onde iremos.
o que nunca fomos.
o nada
e o sempre.
o tudo
e o talvez.

Anderson Lobo
(admirador de cosmos)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

o barqueiro


  Tela da artista Léia Patrocínio


"Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio"

Heráclito

o barqueiro
o barqueiro cruza,
paciente,
o rio
ligando margens
e pessoas.
e são turvas as águas,
pelas quais navega!
estirpe dos iluminados,
venceu a solidão.
aprendendo com o rio
o nobre, e difícil, ofício de amar.

o barqueiro rompeu com o eterno,
quebrou o ciclo,
rumo à plenitude.
quando sorri,
é indício de absoluta paz.
santo,
comunga com o todo.
mansa,
sua embarcação,
tal qual sua alma.
pois, lição,
leva o rio dentro de si.
além,
o barqueiro é o rio,
cujas águas são a própria vida.

Anderson Lobo

terça-feira, 3 de maio de 2011

Lua (Para Luanda, por quem meu coração pulsa com sabor)


arte: Anderson Lobo


Lua, aos poetas e trovas, afeita.
Pulsando em cosmos, fulgente clarão.
Linda e além, forma onírica e perfeita
Ente sensual, santa inspiração.

Lua, como um servo à noite fiel
Canto teu ser na viva imensa treva.
Sobre montanha, uivando ao léu.
Contemplando teu corpo, negro de Eva.

Sê, Lua boa, dragão e astronauta.
Nua, sê aura a guiar o errante.
Teu enlevo, canção, que o bardo exalta.

Teu colo, reduto calmo ao infante.
E quando do dia, teu brilho falta,
Sê sonho terno na mente do amante.

Anderson Lobo
(apaixonado e ponto)


quarta-feira, 27 de abril de 2011

conversas e amigos

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madrugadas tantas,
conversas santas
e animadas.
a loucura regadas.
lúcidas e acaloradas.
por vezes, sensatas.
profundas,
inexatas.

amigos!
desvairados
o suficiente.
sábios
abundantemente.
conselheiros
e divergentes.
ordeiros
e imprudentes.

munidos de bons copos de risos,
brindemos à amizade,
lar da compreensão!


Aos amigos: Raul, Lucas e Giovanni
(Obrigado pela sensatez, quando da minha loucura.
E quando da minha sensatez, obrigado pela loucura.)

Anderson Lobo
(aprendiz de domador de palavras)

segunda-feira, 7 de março de 2011

Peregrino

foto: autor desconhecido

Os pés, descalços e feridos. A alma absorta em pensamentos incertos e dúvidas. A praia deserta e as águas do Mar da Angústia, escuras e frias. Agitadas, as ondas morriam com algum rebuliço na areia grossa.

Peregrino observava com horror, o crepúsculo.  Havia expressão fatídica em sua face pálida e a noite desabava, pesadamente sobre sua alma.

Espectro flutuava sobre as águas do mar e ouviu os clamores de seu âmago. Aproximando-se de Peregrino, deixou-se ficar ao seu lado.

— Amaste e adormeceste ao lado de fera. — sussurrou, sob forma de brisa gélida, no ouvido do Peregrino — Aprendeste com a entrega? Recebeste espinhos em lugar de flores?

Peregrino sentiu calafrio e não foi capaz de encarar Espectro. Novas palavras ecoaram. “Anoiteceste e jamais serás alvorada, Peregrino. Entrega-te a fera de uma vez! Tua busca não tem propósitos. Essa praia, onde prosternas, é o túmulo de tua última quimera!”

Peregrino então lançou o olhar em direção ao poente, onde alguns parcos raios solares ainda teimavam em irradiar alguma luz. Disse como em monólogo, vacilante, embora com firmeza suficiente para ser ouvido pelas águas do mar:

― Oh! Morte, zombeteira e poderosa, dona de incontáveis desgraças! Seduz-me com lábios gélidos, mas, creio, ainda é tempo de caminhar!

— Mas teus pés doem, Peregrino! E teu amor foi vão, assim como teu sacrifício! Estás tão só e teu ocaso vem vindo!

— Admito... desejo teu beijo.
           
— Sim, Peregrino! Sei que tu desejas o veneno de meus lábios!

— Mas ainda é tempo de caminhar...

— Então, insistes na tua própria derrota? — Espectro em tom irônico — Se queres sofrimento, teu verdugo o aguarda. Mas redenção somente eu posso lhe oferecer. 

— Há redenção, que não em teus braços! Haverá outros arrebóis!

Aterrador silêncio se fez, enquanto o céu era envolvido pela noite. Peregrino sorriu, como se estivesse a recuperar um pouco de sua lucidez.

— Aprende com tua loucura, Peregrino. Sê lúcido o suficiente para enfrentar a dor da existência.

Ante tais palavras, Espectro retomou ao mar e Peregrino pôde, enfim, apreciar algo de belo na noite que já era completa. “Eis a única dor que traz alguma luz: a existência!”, foi esse o pensamento que emergiu em sua mente, antes de adormecer sobre as areias calejadas que eram banhadas pelo Mar das Angústias.

Manhã surpreendeu Peregrino, dormindo. Mas este acordou a tempo de acompanhar os momentos finais do arrebol. “O mais edificante dos espetáculos!”

Anderson Lobo
(errante)


sexta-feira, 4 de março de 2011

O Menino e o Monge


O monge meditava, sob a sombra umbrosa de uma árvore, em lugar calmo e suficientemente distante de qualquer aglomeração humana. Passava bem perto dali o menino que, ao vê-lo, parou curioso. O pequeno, então, repousou sua vara de pescar no chão e foi se esconder atrás de um arbusto, de onde podia observar o monge.

Na posição de iogue, os olhos fechados, o monge trazia semblante sereno e as mãos em formato de concha, repousadas sobre as pernas. Imóvel, parecia estar profundamente concentrado, como que impassível e ao mesmo tempo em comunhão com a paisagem bucólica que o rodeava.

Coçando a cabeça, o menino sorriu. Ouvira algo sobre aquele tipo de gente, mas nunca tinha visto tão de perto. Como podia, aquele homem, ficar naquela posição sem se mexer? E, principalmente, por que?

Então o menino sentiu fascínio por figura que lhe era tão estranha. Cautelosamente, saiu detrás do arbusto e, andando calmamente, se aproximou do monge. Ficou estático por algum tempo com o olhar fixo no rosto do sério homem. Levou uma mão à boca para abafar o som de um risinho.

Enquanto isso, o monge continuava absorto, respirando lentamente, como se não tivesse, sequer, percebido a sua presença.

“Será que está dormindo sentado?”, perguntou o menino para si, se aproximando ainda mais. A apenas alguns passos, percebeu que se tratava de homem maduro, em cujo rosto se delineavam algumas rugas.

“Não, não parece estar dormindo... mas está pensando em que?”, o menino ficou bem perto do monge. Então, uma ideia aparentemente brilhante lhe veio à mente e, imediatamente, a pôs em ação. Com algazarra, começou a pular e a gritar como um macaco. Também dançou, como tinha visto um homem fazer uma vez.

Em seguida, bem perto do monge, fez uma careta ruidosa, a mais feia que conseguiu. O monge, contudo, continuou estático, ignorando todos seus gracejos.

Com algo de decepção em sua expressão, o menino ficou novamente quieto. “Acho que quando crescer, quero ser um homem assim...”, pensou subitamente abrindo grande sorrindo. Então, após recolher sua pequena vara de pescar do chão, retomou seu caminho assoviando uma entusiasmada canção.

E quando o menino havia ido, o monge sorriu. “Ainda me torno um menino assim...”

Anderson Lobo
(apaixonado e ponto)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Almodóvar



— Quer dizer que nesse lugar são exibidos filmes cult? — ela apontou para o cinema do outro lado da rua.
— Somente filmes alternativos, que você nunca verá nas grandes salas de cinema — respondi como um verdadeiro cinéfilo.
— Legal, acho que nunca assisti a um filme cult! — ela disse, estampando sorriso cativante.
Dirigimo-nos para a entrada do cinema, onde estavam os cartazes dos tais filmes que estavam sendo exibidos. Lembro-me que havia alguns filmes nacionais e outros estrangeiros, dentre estes, um iraniano.
— Esses filmes são realmente bons, né? — ela me perguntou com um “quê” de dúvida.
— Geralmente são filmes inteligentes e densos! — respondi, sem saber que estava dizendo de forma eufemística que filmes cult são chatos — Nada contra filmes hollywoodianos mas, os alternativos são os melhores!
— Tudo bem... e a qual vamos assistir? — perguntou ela com sorriso ainda mais cativante.
— Olha, não li a sinopse de nenhum desses filmes. — fui sincero — Poderíamos simplesmente escolher, pelos cartazes! Só não escolha o filme iraniano, por favor!  Como todo bom filme iraniano, deve ser extremamente contemplativo!
Sorri do meu comentário que deveria ter sido engraçado.
— E que tal aquele? — ela apontou para um cartaz, a nossa esquerda, ao lado do cartaz do filme iraniano contemplativo.
— Almodóvar? — olhei para o cartaz que trazia a imagem de um menino com uma expressão emblemática — Já ouvi falar sobre esse diretor. É mexicano.
O nome do filme não fazia a mínima diferença e, logicamente, não conhecia nada sobre os filmes do Almodóvar e muito menos sobre sua nacionalidade. Aliás, tudo que sabia sobre filmes alternativos era que os filmes iranianos eram extremamente contemplativos.
— Uma ótima escolha! — respondi triunfalmente.
Comprei o par de ingressos na bilheteria, onde um homem que usava óculos de lentes grossas me atendeu com um sorriso amarelo. Encaminhamo-nos então para o hall de entrada da sala onde seria exibido o tal filme e nos sentamos em uma aconchegante poltrona. Estávamos a sós, a sessão ainda demoraria alguns minutos para começar.
— Gostei da sua iniciativa! — ela disse — Geralmente os caras que me convidam para sair me levam a lugares comuns e pouco criativos! Acho que vai ser interessante assistir a um filme alternativo com você.
Lembro-me de a ter olhado nesse momento com um ar de triunfo e sorri antes de dizer:
— Você é uma pessoa especial! — disse, sem rodeios. Ela me respondeu com um olhar amistoso e, naquele momento, tive certeza de que estava no caminho certo.
Havia qualquer coisa romântica no ar, e pensei em dizer algo para impressiona-la.  A chegada, entretanto, de dois rapazes dissipou um pouco daquela atmosfera. Percebi que eram gays e se sentaram em uma poltrona que estava de frente para nós.
Ela me lançou uma expressão do tipo: “Nenhum problema!” Retribui-lhe o olhar, no exato instante em que chegava uma senhora com ares de intelectual.
Outras pessoas chegaram e, após alguns minutos, nos vimos entre um público constituído basicamente por intelectuais, donos de estilos alternativos. “Naturalmente é um filme cult”, pensei, um pouco receoso, quando a porta da sala abriu.
Acomodamos-nos aproximadamente no centro da sala, a qual era pouco espaçosa, mas também aconchegante. Conversamos algumas banalidades até que, enfim, as luzes se apagaram. Após alguns trailers e anúncios, teve início o filme.
Desconfortavelmente... assim fui apresentado a Almodóvar. Não foram necessárias muitas cenas para que eu tivesse certeza de que o filme tratava de algum assunto extremamente espinhoso e constrangedor. Preciso apenas dizer que em determinado ponto da película, um padre molestava um menino, o menino do cartaz, creio eu.
Senti algo de aflição me preencher o estômago. Queria impressioná-la, mas não de forma tão contundente. Não que esperasse por tema açucarado em um filme cult, mas, enfim, não pensava que o tal filme fosse tão, digamos, polêmico. Será que o contemplativo filme iraniano teria sido melhor opção?
Tentava ser o mais natural possível, mas, confesso, não era fácil com aquele filme sobre padres pedófilos sendo exibido. Ligeiramente constrangido, olhava para ela obliquamente e não conseguia perceber se estava mais ou menos à vontade que eu.
Não que tivesse algum problema em discutir aquele tema indigesto. Sim, acredito que é preciso denunciar a pedofilia! Todavia, não queria tocar naquele assunto, naquele exato momento, dentro daquela sala de cinema, ao lado daquela bela morena.
E se ela pedisse para sair da sala? Talvez, em meu íntimo esse fosse o meu desejo. Mas, afinal, a sugestão de assistir a um filme cult  tinha sido minha. E se a intenção era impressioná-la, talvez estivesse conseguindo, de uma forma ou de outra.  Além do mais, ela havia concordado em assistir a um filme alternativo e, definitivamente, era o que estávamos fazendo.
O desfecho dessa ideia, convenhamos, pouco inspirada, foi a seguinte: saímos da sala em silêncio, e pouco fizemos para mudar aquela situação. Logicamente, eu não perguntei se ela havia gostado do filme. Porém, com alguma expectativa, arrisquei um convite:
— Vamos comer algo? Uma pizza, quem sabe?
Ela não respondeu, rebateu com seriedade:
— Não estou com fome. Sinceramente, acho que não estou preparada para filmes desse tipo.
Naquele momento, pensei novamente se o filme iraniano teria sido uma escolha mais sábia.

Anderson Lobo

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pablo Neruda

 
 poeta  venerando a lua estilo aquarela
"Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu a amei, e às vezes ela também me amou. Em noite como esta eu a tive entre meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito."Pablo Neruda


Enamorei-me em noite calma.
Ela, orgulhosa e única.
Séquito de estrelas em céu de amantes.
Ah, e eu amei!
Com tamanha devoção
que me senti, apenas, feliz.
E, tamanha paixão,
compreendi algo sobre certa face da vida.
Tomando-a nos braços,
bebi de sua boca doce.

Lembrei de algum Neruda.
Pudera eu ser
versado com perfeição na arte de domar palavras
e entendedor do amor

Poetas,
todos nós somos!
Mas palavras...
são tão ariscas!


Anderson Lobo

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ínfimo


foto: autor desconhecido

Era noite. Olhou para céu e se sentiu ínfimo. Sensação de poeira preencheu-lhe a alma. A abóbada celeste estava tomada por entes, cujas idades ultrapassavam os bilhões ou o próprio infinito. Estrelas navegavam por verdadeiros mares de constelações. Astros agiam como seres divinos o observando com onipresença. E tudo era de uma poesia cósmica e perfeitamente infinita.

Tanto espetáculo era mero indício da vastidão que o compreendia. Vivia em certo asteróide, belo pela sua pequenez. Um minúsculo planeta, de uma, igualmente ínfima galáxia. Um ponto a infinitos anos-luz de distância de tantos mundos quanto a vastidão podia conceber.

Brincando de imensidão, libertou a mente. Abriu os braços e, a alma leve, alçou voo. Quando deu por si, sobrevoava o mundo. Lumes de cidades santas dançavam sob seus pés. E frente aos seus olhos de mero homem sonhador, indícios da grandiosidade do Grande Mistério.

Com humildade, reverenciou o universo, com a certeza de que não o podia decifrar. E sentiu grande contentamento por ser capaz de se sentir tão pequeno. Deslumbramento o elevou ao imenso cosmos, de onde podia conversar com os demais planetas irmãos.

Conheceu algo sobre galáxias e quasares. Vivenciou explosões épicas, acontecidas em tempos tão imemoriais, quanto a própria existência. Vislumbrou partículas, para quem não havia tempo nem espaço. Flutuou sobre nuvens de leveza, perseguindo cometas que brincavam no além. Tocou com a ponta dos dedos, o improvável. Sentiu-se tudo e nada, ao mesmo tempo.

E o espaço se revelou, em bela face, a mais bela face da criação.Tudo regido por sublime melodia.

Vivendo no céu, enfim, encontrou o que procurava: paz, da mais profunda quietude. E teve a certeza de que, por mais grão que fosse, pertencia ao todo. O todo que o abarcava e que também existia dentro de si.

Anderson Lobo
(pescador de estrelas)

Numinoso

Anoitecia, quando o mestre bateu à porta do mercador.   — Sou um velho monge, amigo da sabedoria. Venho de uma longa jornada rumo à minha mo...