Havia uma floresta chamada Solidão. Uma floresta cravada em um reino chamado Alma.
Em seu interior ressoava silêncio profundo, só interrompido por uivos
agourentos de corvos que a habitavam. Cores cinzentas e marrons lhe
emprestavam formas e contornos sombrios e de desesperança.
Solidão
era floresta envelhecida, sob as intempéries das mãos sábias do Deus
Tempo. As árvores eram velhas e, destas, os galhos eram secos e tortos.
No chão, jaziam folhas mortas que se desprendiam constantemente das
árvores, como se na floresta não houvesse outra estação senão o outono.
Na
maior parte do tempo, bruma densa pairava por toda sua extensão. Tal
névoa, inevitavelmente, envolvia aqueles que se aventuravam por seus
domínios. Solidão possuía o poder de adentrar sorrateiramente no âmago
dos seres, levando aos seus corações grande tristeza.
Ocasião
ouve em que a ninfa Poesia se perdeu nessa floresta. A bela alma vagou
até perceber que dificilmente conseguiria escapar dos domínios da
Solidão. Tomada por angústia, a ninfa se sentou sobre um pequeno monte,
recostada em um carvalho negro.
Poesia,
então, se entregou a sonoro pranto e, em pouco tempo, começaram a
correr de seus olhos lágrimas em profusão. Estas foram tantas, que poça
começou a se acumular em volta do monte em que se encontrava. E, após
chorar por quase uma eternidade, formou-se um pequeno lago em volta da
ninfa. E a água desse lago cristalino se fez doce.
A
partir de então, um espelho de águas límpidas passou a existir no seio
da tenebrosa floresta. E quando Poesia despejou de seus olhos sua última
lágrima, já não era uma ninfa e sim uma bela flor de aromas suaves e
grande leveza, fixada no centro do lago, sobre uma ilhota e sob a sombra
de um solitário carvalho negro.
O lago recebeu do deus Tempo o sagrado nome de Acalanto
e a flor levou centelha de paz à floresta. Então passou a haver
redenção em meio aos dissabores da Floresta Solidão, ainda que Acalanto estivesse
perdido no mais profundo rincão de seu interior.
Anderson Lobo
(sonhador sempre)