Embora não acredite neles.
Não compreendo Deus.
Somos estranhos.
Falamos línguas diferentes.
Não sei explicar a dança do sol,
Embora milhares digam que ele dançou.
Também não creio que eram os deuses astronautas...
E, embora eles admirem os Budas,
Ainda estou tão distante do nirvana!
Quem sabe um dia?
Por enquanto, eu estou preso ao que creio ser real,
Tão profano aos ritos.
Aos dogmas das tantas crenças.
No conforto de meu ceticismo,
No quarto fechado de minha razão.
Mas me sinto sagrado,
Ainda que ínfimo.
Pois eu creio na ressurreição,
Diária,
Quando dos arrebóis e crepúsculos.
Eu, que medito com os ponteiros do relógio.
Que consagro os sons casuais dos dias.
Que desenho meus espíritos em minhas palavras.
Que oro ao cosmos, mudo.
Venerando os fragmentos de estrelas, de onde viemos.
Rogando ao meu corpo frágil que não sofra além do que suporta.
Pedindo ao acaso que não seja acometido pela bondade alheia.
Que não seja vítima de minha própria maldade.
Pois eu não temo o inexplicável,
Nem o metafísico.
Temo a influência dos mortos e seus excessos que vivem nos vivos.
Os tantos demônios que rondam meu âmago.
As tentações que me fazem humano e suscetível aos vícios.
Eu temo os meninos santos,
Que erguem as clavas de seus pais.
E seus olhares inquisidores.
Os que falam em nomes de seus deuses intransigentes.
Os que crucificam aqueles que lhes são estranhos.
Eu não temo Deus, os zangbetos, os profetas, os messias...
Mas, embora não os compreenda, sinto suas consequências.
Eu temo, sobretudo, seus filhos asseclas.